O barulho cotidiano de cidade grande aliado ao
que troveja de paredões de som e de fones de ouvido são a maior causa da
perda de audição em pessoas cada vez mais jovens. Saiba como se
proteger deste mal invisível
Quem dera pudéssemos acordar ao gorjear dos pássaros, ir ao trabalho
seguindo o assobio do vento e, em lá chegando, envolver-se no silêncio
que exige a concentração. Que nada! Em épocas em que máquinas vociferam,
descanso aos ouvidos é luxo. É estridente o trânsito que atropela o
silêncio em todos os cantos da cidade. Tem ainda o falatório das
pessoas, o tilintar dos celulares, o rasgar dos aviões no céu e o som
até controlável, mas não menos nocivo, dos fones de ouvido.
Percebeu
quanto barulho nos invade todos os dias? Até aos domingos, quando os
arredores deveriam estar bem mais calmos, ainda assim é possível se
incomodar com a música do vizinho nas alturas ou com o paredão de som de
quem passeia de carro. O que pouca gente imagina é que a audição, dessa
forma, vai sendo minada irreversivelmente ao longo dos anos. O
prognóstico é que, cada vez mais e cada vez mais cedo, as pessoas sofram
com perdas auditivas.
Se, há algumas décadas, o problema era
sinal do envelhecimento e dava o ar da graça a partir dos 50 anos de
idade, hoje, a megalomania sonora a que somos submetidos tem adiantado o
problema em até 20 anos. “Segundo estudo israelense da Universidade de
Telaviv, a cada quatro jovens, pelo menos um tem risco de sofrer perda
auditiva em idade precoce, entre 30 e 40 anos, só por conta da exposição
ao som”, destaca o médico Francisco Assis dos Santos Filho, da
Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial
(ABORL-CCF).
As 20 anos, por exemplo, a universitária Aline de
Oliveira já percebe a necessidade de aumentar cada vez mais o som dos
fones de ouvido para perceber a mesma intensidade sonora. “Coloco numa
altura suficiente para não escutar nada ao redor”, diz a moça, que
justifica o hábito como forma de se concentrar nos estudos. Jovens como
Aline fazem justamente o contrário da recomendação médica. “Você tem que
conseguir ouvir uma simples conversa. Se não der, estará agredindo os
ouvidos”, alerta o presidente da Sociedade Cearense de
Otorrinolaringologia, André Alencar Araripe.
Por costumes como
o de Aline e a poluição sonora das grandes cidades, a perda da audição
já é a terceira deficiência que mais acomete a população brasileira. São
5,7 milhões com o problema, segundo dados da Campanha Nacional da Saúde
Auditiva. Outros 25 milhões a 30 milhões de brasileiros têm zumbido no
ouvido, cuja principal causa é a perda paulatina da audição, mas só 15%
procuram ajuda médica. “O brasileiro ainda não se acostumou com uma
cultura de prevenção e, muitas vezes, expõe a audição a riscos
desnecessários”, diz relatório da campanha promovida pela Sociedade
Brasileira de Otologia.
Outros prejuízos
Além
dos problemas auditivos, a poluição sonora afeta todo o organismo
humano, podendo prejudicar inclusive a sociabilidade das pessoas.
“Ruídos elevados dificultam a comunicação, aumentam o estresse e a
pressão arterial, causam problemas gastrointestinais, desconcentram e
provocam insônia”, lista a fonoaudióloga e professora de Medicina da
Universidade de São Paulo (USP), Alessandra Samelli.
Por
isso, está mais do que na hora de baixar o volume. O Ciência & Saúde
desta semana mostra, a seguir, quais os sons nocivos à nossa audição e
como se proteger desde mal invisível.
http://www.opovo.com.br/app/opovo/cienciaesaude/2013/03/30/noticiasjornalcienciaesaude,3030059/ouvidos-a-toda-prova.shtml
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