cronossônica:


Eu gosto de andar de ônibus, quando dá pra ficar olhando a paisagem, conhecendo os itinerários e as referências das ruas, além de divertido eu acho muito útil pra interagir com a cidade. Porém, as 6h da manhã, passando por um terminal super lotado, com filas tumultuadas e muita zuada é uma penitência cruel pra qualquer ser humano desse mundo. Certo dia desses, em uma dessas penitências que paguei, ainda tive o azar de ficar no fogo cruzado de uma guerra de ruídos.
Foi assim: eu tava indo pro trabalho, nessa época eu pegava o (30)Siqueira/Papicu via 13 de Maio no terminal do Siqueira e descia no Mercado Joaquim Távora, na Pontes Vieira, logo depois do Kukukaia e do Parque Rio Branco. Eram entorno de 45 minutos de viagem. O terminal estava lotado como de costume, a fila estava enorme como de costume e o embarque tumultuado como de costume. – Engraçado é que todo dia eu escuto alguém dizendo “isso é uma bagunça, não tem organização, etc e tal”, mas ninguém se dispõe a colaborar e sempre fica um atropelando o outro – Aquele tumultuado de gente gritando, reclamando e molecando tem muita informação que já passa despercebido por quem enfrenta essa peleja todo dia. – “Vamo pessoal que esse é o último!”, “Passa mas deixe meu braço aqui!” – Primeiro porque se começa a ignorar os detalhes quando fica rotineiro e segundo porque no fuzuê não é muito fácil prestar atenção nesse tipo de coisa.
Eu fiquei ali pelo bolo de gente, já tinha esperado passar uns dois ônibus e me preparava pra subir no próximo. O Terminal do Siqueira é quadrado então muita gente fica olhando pro outro lado da plataforma pra monitorar a chegada de um ônibus. Quando o coletivo surge na curva logo antes de chegar na fila, a agitação já se forma, e quando ele encosta o empurra-empurra é geral. Gente se espremendo e forçando a entrada, todos ao mesmo tempo na busca de garantir uma cadeira pra ir sentado. Eu simplesmente levantei os pés – isso mesmo! Os dois! – e esperei o mar de gente me arrastar pra dentro do veículo – sugiro cuidado com os bolsos a quem praticar esse esporte - com muito esforço pra não ser esmagado nessa arrumação. Me espremi, forcei a entrada até perto do trocador e me instalei do lado daquela cadeira que fica sozinha na frente dele. Mais gritos, mais reclamações e mais molecagens. Assim que a cota de passageiros pra lotar o ônibus é atingida, o motorista fecha a porta e sai com o coletivo contrariando as leis da física com vários corpos ocupando o mesmo espaço. Tão lotado que até o motorista ficou em pé.(he, he – É a nova!)
Aquele burburinho de gente forma uma massa dentro do ônibus que deixa o nível de silêncio bastante alto. Entre as camadas de informação acústica que eu identificava no local estavam as conversas intermitentes, o ruído dos motores dos veículos externos com algumas buzinadas, os rangidos do próprio ônibus, algumas intervenções esporádicas como uma tosse e o rádio ligado - que tive a infelicidade de ficar mesmo de frente – e foi a partir dessa desgraça de aparelho que o conflito sonoro começou.
A “música” que tava tocando era um desses forrós escrachados tipo “lapada na rachada” e uma moça que estava na cadeira atrás de mim não gostou – “ Nãm!!! Essa banda é mó paia!!! Prefiro Aviões(banda conhecida do Ceará). Taí que não sou nem obrigada a ouvir esse agôro!!!" – e simplesmente pegou seu mp4 e botou outra música pra tocar! Eis que um jovem rapaz mais da frente no lado que eu tava não gostou muito da atitude da menina e pediu pra ela desligar, ela não deu nem confiança e fez ouvido de mercador, ele insistiu pedindo mais alto. – Ei! Por favor, pode desligar? – E ela nada. Então ele, pra não ficar por baixo, pegou seu mp4 – é, todo mundo tem um! - e botou um desses hip-hop’s americanos pra tocar e a mangofa completa se formou!! Forró de um lado, mais forró do outro, hip-hop de outro, gente reclamando e pra completar o que já não tava bom as velhas buzinas no engarrafamento como de costume!!

"Coletividual"

Nenhum comentário:

Postar um comentário